quinta-feira, 1 de abril de 2010

A ENERGIA DA SIMPLICIDADE



Penso muito sobre a questão do que seja ser simples, da simplicidade.
O que é, afinal, isso? Como posso ser simples e buscar a simplicidade nesta sociedade onde o que conta é o que se consegue ter?
Simplicidade é viver numa casa de chão batido, com fogão à lenha? É plantar o que vou consumir? É andar com carro usado? Como diria o Belchior, uma casa no campo? Parece simples ter amigos, discos e livros. Será que é?
Eu penso que não. A ideia de simplicidade que temos dentro de nós, é simples desde a sua origem!
Ser simples eu penso que seja conseguir ser desapegado, bem-humorado, ter o olhar voltado à beleza, claro nas relações e colocações, preferir a honestidade e asséptico e ecológico em nosso dia a dia, em nossas relações com as pessoas, próximas ou não, com as coisas, com a natureza, com nossa alma e nosso espírito.
É saber que, se queremos chegar a algum ponto, vamos ter que fazer por nós mesmos e não esperar que alguém faça o nosso trabalho. Como bem disse o Dalai Lama: seja a mudança que você quer ver no mundo.
E mais que isso. Esta questão da simplicidade surge agora como um clamor dos tempos modernos, onde a complexidade do mundo nos mostra a desnecessidade da complexidade humana. Onde cada dia que passa, sentimos a falta que faz um olhar mais atento ao nosso entorno: para as coisas, pessoas e natureza. Olhar esse sem pré-julgamentos, sem uma opinião formada sobre o que está sendo observado. Apenas um olhar longo, curioso e contemplativo.
A palavra simples é formada por duas outras de origem latina: sin, que significa único e plex, dobra. Logo, ser simples é ter uma única dobra. Pois assim é a vida em todas as suas dimensões. Pode ter uma dobra generosa ou várias dobras desconfiadas. Isto dependerá do que queremos mostrar ou esconder.
Simplificar significa, então, facilitar o acesso ao que interessa, ao conteúdo dos fatos da vida, das coisas que usamos e das mensagens que queremos passar.
Simplicidade, portanto, independe da roupa que usamos, do carro que dirigimos, da casa que moramos, da comida que comemos.
Ser simples significa colocar todas essas questões em perspectiva nas nossas vidas, olhando com efetividade para elas e entendendo que sempre existiram e sempre existirão no Universo e que neste momento apenas, fazem parte de uma existência que por acaso é a sua, mas que, verdadeiramente, não te pertencem de fato e, sim, ao Todo do qual somos parte.
*adaptado do texto de Eugenio Mussak - Revista Vida Simples - março 2010